sábado, 25 de abril de 2009

Mais um conto incompleto

Quando caminhava pela rua, João achava-se feio. Olhava-se no espelho e via uma barriga maior do que queria, o cabelo caindo onde antes crescia, a barba crescida e o rosto disforme.

João não tinha nada contra quem não gostasse dele. Aliás, pelo contrário, achava que eles estavam certos mesmo. Afinal de contas, ele não tinha nada de mais. Enquanto os outros brilhavam, destacavam-se, ele permanecia obscuro, em seu silencioso trabalho. Tendia até a gostar da posição, ainda que silenciosamente invejasse aqueles que conseguiam reconhecimento. Ansiava pelo destaque, mas preferia a obscuridade.

João só queria ser feliz, mas não conseguia conciliar-se com sua própria consciência, nem com a imagem que tinha no espelho. Quem o visse caminhando na rua, naquela manhã, teria à sua frente apenas um menino cabisbaixo, envergonhado de si mesmo.

Mas ela não via assim. Por trás dos óculos sujos e do sorriso tímido, viu brilhar algo diferenciado. Algo, aliás, que o mundo todo era capaz de ver, menos ele. Ele mesmo não acreditava a princípio no que ouvia, mas ainda assim ela dizia. E conquistou-o. E o fez enxergar o mundo como talvez ele seja.

(...)

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A visão exerce-se para fora. Nem sempre nos vemos como somos. Mas, aliás, o que somos mesmo? Confiar no olhar alheio talvez seja um bom parâmetro, mas nada como conhecer a si mesmo, na sugestão socrática. E esse é o grande desafio à frente, e para dentro.

De toda maneira, é sempre bom ouvir elogios!

Um comentário:

Daniele Soares disse...

Gostei!
O auto conhecimento, muitas vezes, não é direto, por isso a importância em saber escutar as pessoas ao redor, filtrar elogios e críticas. Isso ajuda no crescimento do ser humano.

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