Um dia, voaremos.
Por entre as nuvens de alva pureza, tendo nos olhos a vista do azul. Sentindo a brisa gélida a refrescar-nos o rosto, o sol a banhar-nos o coração de novas luminosidades. Numa manhã de extrema beleza, veremos o mundo do alto, contemplando a magnificência de sua inteira visão, abrangendo além dos montes, vendo por cima dos mais altos cumes.
Um dia, deixaremos tudo isso para trás. Tristezas, mesquinharias, pequenezas. Não, sequer pensemos mais, naqueles dias em que caminhávamos sem direção, com pés imperfeitos, sob caminhos tortuosos. Esqueçamos no passado as lembranças de um tempo que não mais atende a nossos mais elevados anseios.
Pois agora temos asas, e alçamos vôos até onde os limites de nossa imaginação poderiam alcançar. Asas que não são simples membros acoplados, como aos anjos desenhados no passado. São lépidos instrumentos de transporte, a nos direcionar aos confins do Universo, com o simples desejo de um pensamento.
Antigamente, cansávamos pelo esforço de nossas pesadas pernas e pés. O resto de nosso corpo parecia prender-nos a onde estávamos, e isso nos atribulava. Olhávamos para o infinito, desejando um não-sei-o-quê de querer mais. Algo havia, algo há. E hoje, neste exato momento, está em nossas mãos. A velocidade nos consome, em que percebemos o tudo e o nada. Um sorriso brota em nossa face, ao vermos aquilo que achávamos que veríamos, mas apenas em nossos mais distantes sonhos.
Nunca mais a separação, o término, o limite do tempo. Vivemos agora sob as augustas inspirações do sem-fim. Do momento de alegria que não se encerra, do prazer verdadeiro que perdura sem fronteiras. Não somos mais um e outro, somos todos. Somos sempre. Somos agora.
Superamos nossas divergências, alcançamos a convergência. Abandonamos antigas convicções – até porque, mostraram-se todas equivocadas. Acreditávamos em nós, sozinhos. Acreditávamos em sistemas e explicações. Estávamos errados. As coisas não dependem – aliás, nunca dependeram – de nós para simplesmente serem o que são. Entendemos mais, e vimos que menos sabíamos. Por isso mesmo, paramos de nos importar.
Paramos de nos importar também com a aparência, o externo. Onde achávamos que víamos beleza, descobrimos que só existia um teatro. Como alguém que trocasse suas belas roupas, mas estivesse sempre com o mesmo cancro. Nossas manchas escondiam-se sob belas ilusões, mas finalmente decidimo-nos por abandoná-las.
Decidimos deixar tudo, sem nos deixar um ao outro. Tudo aquilo que era falso e irreal. Cadeias que nos prendiam ao chão, pesos que amarrávamos aos pés. Por sermos simplesmente o que somos, em toda nossa beleza, pudemos voar. Enquanto não fizemos esta opção, continuamos presos ao solo. E quanta coisa estava se escondendo de nós! Quantas visões escondidas por detrás das nuvens; quantos momentos o céu de azul nos proporcionaria. Quantos mundos a visitar, quantas supernovas a presenciar, quantos milhões de anos luz a serem visitados. Sem pressa, pois o tempo não está mais conosco.
Tudo isso não é sonho. Tudo isso está em nossas mãos, exatamente agora. Só nos basta voar.
sábado, 30 de janeiro de 2010
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