sábado, 30 de janeiro de 2010

Porque não... voar?

Um dia, voaremos.

Por entre as nuvens de alva pureza, tendo nos olhos a vista do azul. Sentindo a brisa gélida a refrescar-nos o rosto, o sol a banhar-nos o coração de novas luminosidades. Numa manhã de extrema beleza, veremos o mundo do alto, contemplando a magnificência de sua inteira visão, abrangendo além dos montes, vendo por cima dos mais altos cumes.

Um dia, deixaremos tudo isso para trás. Tristezas, mesquinharias, pequenezas. Não, sequer pensemos mais, naqueles dias em que caminhávamos sem direção, com pés imperfeitos, sob caminhos tortuosos. Esqueçamos no passado as lembranças de um tempo que não mais atende a nossos mais elevados anseios.

Pois agora temos asas, e alçamos vôos até onde os limites de nossa imaginação poderiam alcançar. Asas que não são simples membros acoplados, como aos anjos desenhados no passado. São lépidos instrumentos de transporte, a nos direcionar aos confins do Universo, com o simples desejo de um pensamento.

Antigamente, cansávamos pelo esforço de nossas pesadas pernas e pés. O resto de nosso corpo parecia prender-nos a onde estávamos, e isso nos atribulava. Olhávamos para o infinito, desejando um não-sei-o-quê de querer mais. Algo havia, algo há. E hoje, neste exato momento, está em nossas mãos. A velocidade nos consome, em que percebemos o tudo e o nada. Um sorriso brota em nossa face, ao vermos aquilo que achávamos que veríamos, mas apenas em nossos mais distantes sonhos.

Nunca mais a separação, o término, o limite do tempo. Vivemos agora sob as augustas inspirações do sem-fim. Do momento de alegria que não se encerra, do prazer verdadeiro que perdura sem fronteiras. Não somos mais um e outro, somos todos. Somos sempre. Somos agora.

Superamos nossas divergências, alcançamos a convergência. Abandonamos antigas convicções – até porque, mostraram-se todas equivocadas. Acreditávamos em nós, sozinhos. Acreditávamos em sistemas e explicações. Estávamos errados. As coisas não dependem – aliás, nunca dependeram – de nós para simplesmente serem o que são. Entendemos mais, e vimos que menos sabíamos. Por isso mesmo, paramos de nos importar.

Paramos de nos importar também com a aparência, o externo. Onde achávamos que víamos beleza, descobrimos que só existia um teatro. Como alguém que trocasse suas belas roupas, mas estivesse sempre com o mesmo cancro. Nossas manchas escondiam-se sob belas ilusões, mas finalmente decidimo-nos por abandoná-las.

Decidimos deixar tudo, sem nos deixar um ao outro. Tudo aquilo que era falso e irreal. Cadeias que nos prendiam ao chão, pesos que amarrávamos aos pés. Por sermos simplesmente o que somos, em toda nossa beleza, pudemos voar. Enquanto não fizemos esta opção, continuamos presos ao solo. E quanta coisa estava se escondendo de nós! Quantas visões escondidas por detrás das nuvens; quantos momentos o céu de azul nos proporcionaria. Quantos mundos a visitar, quantas supernovas a presenciar, quantos milhões de anos luz a serem visitados. Sem pressa, pois o tempo não está mais conosco.

Tudo isso não é sonho. Tudo isso está em nossas mãos, exatamente agora. Só nos basta voar.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Sobre o Haiti, a Sandy, o Caetano e os Titãs

Época verdadeiramente relevante passa a humanidade.

Quantas milhares de pessoas deixaram seus carros físicos, deitados ao solo pela violência decorrente dos movimentos sempre inquietantes da Terra. Habitando em lares de parca estrutura, num local de conhecida miséria, não puderam resistir aos atritos de placas tectônicas, que jogaram ao solo massas enormes de blocos, cimento e areia. Aos que permaneceram, restou o agravamento da fome, da sede, de todas as necessidades básicas. Sem lar, sem provisões, sem esperança.

E eis que o mundo começa a se mover. Milhões de dólares são depositados sobre aquele país, na forma de víveres e de pecúnia. Vêm de gente conhecida – atores, atrizes, modelos, esportistas. Pessoas que sempre acumularam muito dinheiro, em virtude de sua fama e beleza, e que se condoeram pela desgraça natural. Antigos inimigos políticos, ex-presidentes, se unem num fundo comum, que leva seus nomes, a fim de colaborar de alguma forma. A União das Nações levanta fundos extraordinários. Enfim, é um momento também de beleza para a humanidade. Nós, que sempre nos destruímos, estamos nos movendo para ajudar braços anônimos, que se unem numa massa negra e informe, a clamar pelo simples direito de continuar vivendo, ainda que com sua vida destroçada.

Tudo isso é muito belo. Mas que teria feito essa ajuda se tivesse chegado antes? Quantas pessoas precisam morrer para que nosso coração se deixe tocar pela dor do outro? O tal país vive em imensa miséria, não por causa do abalo de forças sísmicas. Assim ele está desde que criado foi, sendo sustentado por tiranos que extraem imoderamente os bens dos mais pobres em nome de uma luxuosa riqueza, e de um poder que causa sentimentos tais como a “vergonha alheia”.

Quantos braços dessa massa negra já haviam perecido, não apenas por doenças as mais diversas. Por fome. Por miséria. Por uma violência injustificada, causada pelo próprio homem contra si mesmo. Não precisamos de mãe natureza para que venha nos destruir. Aliás, ela só cumpre sua função, que é nos manter vivos. É preciso esse movimento para que seis bilhões continuem sobrevivendo nessa nave.

Mas aqueles milhares nem precisavam ter morrido. O desenvolvimento das tecnologias e do conhecimento da humanidade tornam o fenômeno, se não imprevisível, passível de ser esperado. Que teria acontecido àquela massa com prédios firmes, preparados para tais movimentos?

Afinal, a quantas tragédias ainda teremos de assistir? Vamos ao cinema assistir a um filme, e nos decepcionamos quando são poucas as cenas de morte. Quantos ainda? Quanto tempo ainda até que aprendamos a amar a nossos irmãos de humanidade, sejam eles de onde forem?

Aquele país voltará a caminhar, com toda sua miséria. Daqui três semanas, este relato estará datado. As pessoas nem se lembrarão mais desse fato. E a miséria continuará existindo no Haiti. E no Brasil. Os meninos continuarão sob as marquises, roubando e matando, porque assim lhes foi ensinado na favela, que tememos. Os artistas, esportistas, políticos, continuarão somando contas inacreditáveis de dinheiro, porque assim é que funciona o mundo. E ninguém se lembrará de direcionar um único centavo àquela gente miserável, que merece viver com dignidade, pelo simples fato de serem humanos?

E no nosso trabalho, continuaremos nos encontrando com pessoas que são diferentes da gente, que brigam conosco e nos perseguem pelos mais diferentes motivos. Miseráveis morais, a quem não saberemos direcionar uma única migalha de desculpa? E continuaremos distantes de nossos familiares e amigos, vivendo para nós, pensando em comprar mais e morar num lugar melhor, na triste ilusão de que isso nos fará mais felizes?

O Haiti é mesmo aqui, em todo lugar. Miséria, em qualquer canto. E nós continuaremos indiferentes?

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

E se todo dia fosse Natal?

Sei que a idéia parece batida, tirada de propaganda de televisão, feita para vender mais. Nessa hora, aparecem todos os sorrisos, as crianças felizes, a família reunia em torno da mesa lauta. Isso, depois de se passarem doze meses de uma bateria de pessimismo, violência e música pesada... Mas, vá lá. Melhor trinta dias do que nada.
Mas não é desse Natal que se fala. Não é do Natal do consumo, dos que saem correndo às lojas em busca de presentes. Nem das promessas de fim de ano, que morrem por volta do dia quinze de janeiro do próximo ano. Muito menos das felicitações por resultados obtidos, ou das festas com muita comida e bicarbonato de sódio no dia seguinte. Esqueça-se de Papai Noel!
Infelizmente, o Natal virou tudo isso. Uma festa, materialista e comercial, em que nada mais fazemos do que acelerar um pouco mais a correria do dia a dia para viajar ou organizar eventos. Época triste, na qual desgastamo-nos ainda mais em nossas combalidas energias. O Natal se tornou uma data cheia de cores e luzes externas, e com raras luzes internas. Aquelas que brotam do nosso coração, de nossa alma. Luzes imperecíveis, que não impressionam os sentidos, mas tocam os corações.
Onde estão essas luzes?
Onde está o amor?
Cristãos ou não, lembremo-nos de que a data marca a passagem de um certo Jesus, nascido em Belém e criado em Nazaré. Um homem tão rico, e ao mesmo tempo tão simples, que marcou a História. Dividiu os tempos, ao menos para os ocidentais, e se tornou digno de respeito por toda a humanidade, crentes ou não. Um homem que efetivamente agiu no mundo, e transformou-o com suas ações. Disse, sim, muitas palavras – e foi também através delas que chegou aos nossos tempos, questionando nossas certezas, incomodando-nos em nossos confortos, recomendando-nos a boa luta do amor. Mas muito mais do que falar, este homem – seja ele Deus ou não, um profeta ou um enviado, ou qualquer que seja o papel que a crença pessoal queria atribuir-lhe – este homem, dizíamos, agiu. Não se pode negar que ele viveu em absoluta conformidade com suas palavras. Foi um homem de posturas, e não simplesmente de discursos. Exatamente, o que nossa pobre humanidade precisa, nesse nascer de novo século.
Hoje, desocupado dos afazeres habituais, caminhando por ruas cheias, banhadas pelo intenso sol do verão e com o frescor de uma leve brisa na pele e na alma, eu vi.
Vi um jovem que, após muito tempo, foi rever sua velha avó. Não era o relacionamento dos sonhos – nem ela era a vovó que preparava biscoitos e contava estórias, nem ele era o netinho ávido de aprender, a sentar em seu colo para ouvir. Mas eles se reencontraram num abraço sincero, forrado de sentimentos de compreensão e entendimento. Preocuparam-se um com o outro, falaram-se com carinho, e isso bastou. Onde antes havia frieza, uma fresta se abriu para novos sentimentos.
Vi um homem abraçando, sorridente, uma criança. Não era um brinquedo qualquer entre os dois, mas um instante, de leveza daquele homem, a erguer o menino ao alto. Um menino que não é dele; que já nasceu sem lar; que precisa e pede carinho sem palavras. Um alguém que há muitos anos abandonou os filhos em nome de ter, experimentar e dominar, e que agora quer simplesmente se reconciliar.
Vi uma moça, muito jovem, mas de rosto marcado. Conversa e abraça-se com outra, igualmente jovem, mas sem qualquer simpatia no rosto. Ambas, naquele momento, conversavam-se e entendiam-se como jamais tinham feito. Trocavam impressões, e falavam de conquistas. Sorriam uma à outra. Nem parecia que as duas, de maneira surda, repudiavam-se em seus corações. E agora se falavam – porque a primeira colecionava brinquedos para levar para crianças carentes, enquanto a segunda tinha decidido auxiliar. Pintavam com suas palavras cenas de crianças sofridas, porém sorridentes, a se divertir com brinquedos dados por vozes mudas e desconhecidas.
Vi senhores distintos descendo às zonas mais pobres do árido sertão. Levam nos caminhões, de que são proprietários, material de construção, roupas e demais utensílios. Construirão casas e cisternas, deixarão roupas novas e ferramentas para o trabalho. Auxiliarão, sem que ninguém o saiba, a famílias que desconhecem até mesmo o que é ter o pão sobre a mesa.
Vi a alegria do abraço sincero daquele que teve ferida a alma em seu ofensor, esquecendo todas as suas faltas, e celebrando a oportunidade de estarem juntos, aprendendo um com o outro. Ouvi até mesmo frases elogiosas! Verdadeiras? Que diferença faz?... Já o fez, e já foi belo. Afinal, que seria de nossa vida sem nossos ofensores? Como desenvolver sentimentos nobres, formas diferentes de se reinventar?
Vi sorrisos. Vi promessas de amor. Vi paz e reconciliação. Enfim, é Natal.
As lojas estão abarrotadas de pessoas apressadas, gastando suas poucas economias em presentes caros. As ruas têm figuras de anjos e trombetas penduradas nos postes, e as caixas de som tocam canções tradicionais, que falam de sinos a tocar em uma noite especial. Mas será que precisamos disso para amar?
Será que temos de passar onze meses do ano esquecidos uns dos outros, alimentando velhas mágoas que fazem nosso corpo adoecer, para então, num único dia, distribuir abraços e afeto?
Não. Esqueçamos a árvore, o peru e o homem vestido de vermelho. Nem pensar na excitação das festas regadas a álcool e comida pesada.
Pensemos apenas naquele homem. Aquele que foi capaz de amar aos seus irmãos da Judéia, e do Império Romano. Que se sentou à mesa com as prostitutas e com os doutores da lei. Que tinha a palavra certa para os pobres, e para o rico Zaqueu. A cada um deu um destino, ofereceu uma direção. E a todos marcou com sua passagem. Importou-se com eles, esqueceu suas dívidas, orientou seus passos, ajudou-os em suas necessidades. Viveu sem pedir nada em troca, amou desmotivadamente. Ninguém jamais se esqueceu dele.
Tão simples, não é mesmo? Sem honrarias, sem grandes gestos, sem esperanças ou pedidos de reconhecimento. Ele apenas fez. Pensemos apenas nisso – em tantas coisas belas e bonitas, que a lembrança daquele homem proporciona. Moralismo? Não, longe disso.
Apenas queremos nos perguntar... e se todo dia, em nosso coração, fosse Natal?

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Aguardem...

Algo bem legal está nascendo. Sobre conflitos, decisões e contradições. Sobre nossa vida, enfim.

O primeiro capítulo sai aqui. Em breve...

domingo, 6 de setembro de 2009

Voltei...

O que de mais grave pode acontecer a quem sente?

Dizem que alguns têm medo de morrer; outros têm medo de viver. Há tantas coisas que podem acontecer no caminho. Mas, hoje em dia nada me amedronta.

Não é possível contestar que a hora da dor leva à mente em desalinho a dançar ao sabor de sentimentos perturbados pelo soçobrar de violentas ondas. Dobrado pela dúvida do que vem depois, quando nada é como se esperava ser, a alma questiona-se a si mesma e ao mundo. Nessa hora de escuridão, não é possível negar que a incerteza pode se transformar em temor.

Mas, desde agora, em que os céus e o mar da tranqüilidade comandam a jornada, nada me perturba com o seu simples “poder-ser”. Continuo andando pelas ruas pensando no amanhã e nas coisas por fazer; nos compromissos e nas dúvidas naturais do viver. Usando o poder de decisão, pensando sobre o que fazer, continuo vivendo como sempre vivi. E é esse o problema.

Porque não é o medo o que de pior pode ocorrer. Nem mesmo o mal que pode ter ocorrido, porque no fundo, criamos e vivemos males que não existem, senão em nossa tola mente. Não é o que pode acontecer ou o que aconteceu. É só um algo que se passou no fundo deste velho autor, sem que ninguém talvez tenha podido perceber.

Perdi o lirismo. Deixei de ver a beleza. Não consegui mais enxergar a poesia. Perdido entre contas a pagar e agendas a cumprir, congelei meu raciocínio. A leveza das letras que percorrem o espaço em branco, preenchendo com sentimento o vazio do dia a dia concreto, perdeu-se em alguma esquina do caminho, no meio das agruras da matéria que cobraram seu preço.

Deixei de sonhar. Parei de analisar. Não consegui mais criar belos mundos, em que, singelo, viajava, e criava coisas belas. Podia construir o que quisesse, pintar com as cores da mente as cenas que pudessem agradar não apenas ao gosto, mas ao querer. Todo autor é egoísta – escreve para satisfazer seu desejo de tornar concreto algo que ele visualizou, imaterial, em sua mente. Às vezes, mais alguém também sonha com aquilo. Pronto, está identificado o leitor, e estabelecido este estranho relacionamento entre estranhos.

Mas tudo isso, em algum lugar, se perdeu. Anseios, inquietações, dúvidas, alegrias, desejos... Ficaram menores que as faturas, os anseios do trabalho, as coisas por fazer. E eis que o poeta, egoísta e lírico, quase morreu.

Porque de repente ele renasce, gritando sufocado – não mais agüentou ficar perdido em meio a tantas coisas sem importância. Porque uma voz aqui dentro quer voltar a falar, a pensar, a rir e a chorar. Bastou olhar para alguém que, com sorriso no rosto, falava da beleza do viver com arte, sentindo-se tão feliz por simplesmente fazer o que sempre amou fazer. E esse maldito sentimento, a velha inveja, me fez olhar para dentro de mim mesmo e pensar – porque não eu? Porque não fazer aquilo que a mim, também, me faz sentir tão bem? E eis que das trevas nasce a luz, e no meio de linhas ainda tortas, desacostumadas ao toque nervoso do teclado, renascem os primeiros rebentos da criação, esta maravilhosa criação intelectual. Esse algo tão inconcreto, e tão duro quanto a tela branca que agora espera, impassiva, em minha frente. A maravilhosa sensação de explodir os sentimentos e poder decidir, na próxima linha... o que quero para mim, para o outro, para o mundo.

Na vida de verdade, tenho de me submeter à viver no mundo dos homens. Aqui, não. Posso voar, viver, ser feliz, ser perfeito... Posso construir estórias que elevam, personagens que me alegram, contos que me façam pensar. Posso viver a realidade que sonho, mas que não consigo concretizar. Posso ser, enfim, aquele que comanda, sem interferências, a bela vida que quero viver! Voilá!

E uma energia estagnada volta a explodir, em borbotões, dando vazão a tantos dias, meses, de ansiedade por renascer. São idéias que não se expressaram, sonhos que não se concretizaram, desejos silenciados. Mas, agora, não. Tudo posto à fora. Chega de esconder e reprimir o sincero desejo daquele que necessita expor-se e expor o que vê. É hora de voltar.

sábado, 25 de abril de 2009

Mais um conto incompleto

Quando caminhava pela rua, João achava-se feio. Olhava-se no espelho e via uma barriga maior do que queria, o cabelo caindo onde antes crescia, a barba crescida e o rosto disforme.

João não tinha nada contra quem não gostasse dele. Aliás, pelo contrário, achava que eles estavam certos mesmo. Afinal de contas, ele não tinha nada de mais. Enquanto os outros brilhavam, destacavam-se, ele permanecia obscuro, em seu silencioso trabalho. Tendia até a gostar da posição, ainda que silenciosamente invejasse aqueles que conseguiam reconhecimento. Ansiava pelo destaque, mas preferia a obscuridade.

João só queria ser feliz, mas não conseguia conciliar-se com sua própria consciência, nem com a imagem que tinha no espelho. Quem o visse caminhando na rua, naquela manhã, teria à sua frente apenas um menino cabisbaixo, envergonhado de si mesmo.

Mas ela não via assim. Por trás dos óculos sujos e do sorriso tímido, viu brilhar algo diferenciado. Algo, aliás, que o mundo todo era capaz de ver, menos ele. Ele mesmo não acreditava a princípio no que ouvia, mas ainda assim ela dizia. E conquistou-o. E o fez enxergar o mundo como talvez ele seja.

(...)

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A visão exerce-se para fora. Nem sempre nos vemos como somos. Mas, aliás, o que somos mesmo? Confiar no olhar alheio talvez seja um bom parâmetro, mas nada como conhecer a si mesmo, na sugestão socrática. E esse é o grande desafio à frente, e para dentro.

De toda maneira, é sempre bom ouvir elogios!

domingo, 12 de abril de 2009

De renascimentos

Todos renascemos em algum momento de nossa existência, o que pode acontecer das mais diversas maneiras. O mito dos renascimentos invade o ideário humano desde há muito tempo, e vem servindo às mais diversas reações: desde a indiferença à profunda reflexão e aplicação prática de suas consequências.

Por um motivo ou por outro, porém, convencionou-se celebrar nesses dias o fenômeno do renascimento de um cara aí que parece que marcou um pouco a história - dizem que o nascimento dele divide o calendário no Ocidente...

Há muitas formas de renascer, sem nenhuma figura. Há muitas oportunidades para recomeçar e refazer. Aliás, cada vez que abrimos os olhos na cama, pela manhã, estamos renascendo. Durante algumas horas, nosso corpo chegou o mais próximo possível do estado da morte possível para ele. E, sem que nos demos conta disso, lá estamos nós na próxima manhã, como se nada houvera acontecido. Como quando dormimos com o braço em cima da cabeça, e ele acorda totalmente adormecido...

Naquele mínimo instante, é como se pudessemos tocar nossa carne desfalecida e, por uma ação mágica, fazê-la voltar ao comando de nosso movimento. Mágico, tétrico, humano. Vencemos mais uma batalha - voltamos à vida.

E vamos vivendo no automático, esquecendo que o dia de ontem já é uma lembrança, e que o dia de amanhã é uma esperança. E o que sobra? O agora. O presente. Em que recomeçamos, e temos a possibilidade de fazer algo totalmente novo.

Um chavão, talvez, uma ideia batida. Tão batida, que ninguém dá a atenção devida a ela. Como um livro que folheamos milhares de vezes, sem ler e pensar. Deixamos esquecido na prateleira, esperando pelo momento que as traças o devorem, e levem embora o momento em que ele nos despertaria de uma longa letargia. Como essa que nos invade, e nos faz orgulhosos, teimosos, materialistas... Faz com que levemos a vida esquecendo-nos de pensar sobre o que estamos fazendo aqui, para onde queremos ir, e o que devemos fazer para alcançar tudo isso...

Sem reler, publicando. Se alguém pegar alguma falha no texto, favor avisar... ;-)

Boa Páscoa a todos...

domingo, 22 de março de 2009

Carta aberta a quem se ama...

Comecei aqui pensando em escrever sobre uma definição que li de um sábio hoje. Falava ele sobre dons. Pensamos em dons como algo que nos pertence, e que conosco permanecerá para todo o sempre - independentemente de quanto o querido leitor entenda por "sempre". Saiba que ele é maior do que se imagina, mas isso é conversa para outra hora...

Mas o fato é "dom" tem mesma raiz etimológica que "doação". Um dom é algo que é doado. Para os que perfilham na linha dos crentes, doado por uma força maior, receba o nome que receber.

Um dom é uma doação. Que pode ser retirado a qualquer momento. Afinal de contas, ao contrário do que ocorre com a pobre lei dos homens, a lei do Universo faculta àquele que doa o direito de retirar a doação quando entende que o beneficiado ainda não está apto a exercitar o dom concedido.

Temos tantos dons em nossa vida... Ver, ouvir, sentir. Ler, escrever, falar. Sorrir, chorar, amar e seguir em frente. São tantas coisas que temos, e que usamos tão mal, e que nos fazem infelizes por não sabermos usar. Somos como crianças que, no lugar de usar seus brinquedos com os amigos, ficamos jogando sozinhos, olhando pela janela desejando que alguém mais estivesse conosco. Só que aí teríamos que estabelecer regras para o jogo, e sempre queremos nossas regras, boas ou más que sejam. E, por isso, preferimos ficar jogando a bola na parede (sujando-a).

O propósito era só tratar disso. Mas, deitado na cama, à meia-luz, ouvindo uma canção que sempre nos embala, olhei para ela, mais uma vez. Dormindo, numa paz profunda. E pensei que há ainda outros dons que temos, dos quais não podemos nos esquecer jamais. E é o amor. Há muitas formas de exercitá-lo, com cônjuges, amigos, pais, irmãos, filhos... Todos tão importantes. Todos momentos tão únicos. Dons que a Vida nos concede, para que os aproveitemos bem, e não lançando impropérios, reclamando dos outros, procurando o mal em tudo e em todos... Quantos sentimentos belos podemos transmitir, em gestos e palavras. Quantas coisas boas a serem vividas!

Que seja uma semana de belezas nascidas no coração...

(Obs.: iríamos reiniciar a publicação dos textos antigos. Deixemos para a próxima oportunidade).

sábado, 7 de fevereiro de 2009

I've got nothing to say

Tem dias que é assim mesmo, a gente acorda sem inspiração.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Acordei com essa música na cabeça...

You don't realize how much
I need you.
Love you all the time,
Never leave you.

Please come on back to me.
I'm lonely as can be.
I need you.

Said you had a thing or two
To tell me.
How was I to know you would
Upset me.

I didn't realize
As I looked in your eyes.
You told me.

Oh, yes, you told me
You don't want my lovin' anymore.
That's when it hurt me
And feeling like this,
I just can't go on anymore.

Please remember how I feel
About you.
I could never really live
Without you.

So, come on back and see
Just what you mean to me.
I need you.

But when you told me
You don't want my lovin' anymore.
That's when it hurt me
And feeling like this,
I just can't go on anymore.

Please remember how I feel
About you.
I could never really live
Without you.

So, come on back and see
Just what you mean to me.
I need you.
I need you.
I need you.

Grande George Harrison...

domingo, 25 de janeiro de 2009

Uma pequena reflexão

Numa noite de domingo, nada como apenas uma breve reflexão. Afinal, a chuva está caindo lá fora generosa, enquanto mais um dia se encerra. Dia em que se fez algo por alguém sempre costuma terminar com uma sensação de dever cumprido...

Antecipa o reinício da vida no dia seguinte. Sem preocupações ou medos, a nova manhã se anuncia com esperanças. Coisas por fazer, compromissos a cumprir... Nada pesado, nada incômodo. Chega a soar quase estranho depois de tanto tempo de falso sofrimento. Mas a vida é assim. A dificuldade não está mais lá fora, mas dentro do coração que ainda se perturba em suas inconstâncias.

Do meu lado, uma princesa dorme tranquila... Vira de lado, preocupada se está tudo bem por aqui. Está, minha linda, descanse bem... A vida vai recomeçar daqui a pouco, para que brilhemos nela.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Momentos e decisões

Escolhas, escolhas... Quantas coisas se tem para decidir num curto espaço - um segundo de vida muitas vezes. O caminho a seguir, a frase a dizer, a verdade a contar, a forma de se colocar, a página a clicar... O futuro profissional, os relacionamentos a manter, uma carta a escrever, o exercício por se iniciar. Um hábito a se interromper, um lugar a se visitar, uma viagem por se fazer.

Nessas infinitas decisões resta aberto em nossa frente, como num infinito emaranhado de bifurcações, o futuro. Ideia abstrata, intangível, quase mística. O futuro é o que não foi, e aquilo que será. Um nunca chegar, sempre se perguntando como será. Ele se constroi nas dúvidas quase que insanáveis que regem o mais importante dos momentos: o agora.

O que escrever no próximo parágrafo? Como finalizar esse texto? Publicar ou não? Será que alguém vai ler? São tantas dúvidas... E talvez sejam dúvidas porque, em nossa amesquinhada visão, não conseguimos exnergar-lhes as exatas consequências. Mas as consequências sempre vem. E respondem a cada um de nós, com base no que fomos, o que poderemos ser no amanhã. Depende do que decidiremos agora.

Por vezes decido sem querer decidir, respondendo a um velho impulso. Por vezes decido com base em minhas reflexões, e sinto um grande bem estar, por ter vencido o impulso instintitivo que ainda grita nas entranhas de qualquer ser humano. Vivo num conflito de autoridades em minhas decisões, e já me pergunto se quem decide sou eu agora, ou eu antes. Somos sempre nós, mas em cada momento somos um. Porém, misturados e mexidos, batidos no leite com mel – ou no vinagre com limão, dependendo da situação. Quantas decisões... A maior delas? Como decidir. Bases, conceitos sólidos, que não nos permitissem fugir da nossa linha em direção ao objetivo.

Mas nós, homens, somos tão sólidos quanto o ar que nos rodeia. Qualquer vento nos joga pra lá e pra cá, e lá nos vamos, perdidos em solitárias reflexões, como estas. Bem, ao menos já não são tão solitárias...

Essas reflexões todas me lembraram de um texto já publicado (e perdido) aqui, pelo qual tenho muito carinho... Nos próximos dias ele voltará à cena.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Joana (conto interminado)

Joana queria voar. Joana queria viver. Tão intensamente, tão vivamente, que sua mente vibrava em febre com tantas coisas intensas que via em torno de si. Não bastava simplesmente aguardar o dia de amanhã, era preciso experimentar tudo, aqui e agora.

Um dia, Joana decidiu. Libertou-se. Quebrou as algemas que a retinham ao solo, com lágrimas nos olhos abandonou o velho ninho de conforto. Abriu as portinholas da gaiola, deixando para trás velhos compromissos, e buscando o infinito.

Joana plana agora sobre os céus de brigadeiro, em sua ampla beleza primaveril, cheia de esperanças e calor em seu interior. É novamente como um jovem passáro que redescobriu o prazer de rasgar a imensidão vazia dos ares. Brinca descompromissadamente com outras aves, canta feliz um trinar de liberdade, suspende suas asas por alguns instantes apenas para sentir o vento mais intensamente rasgando por baixo de seu corpo, levando-a acima. Como uma mágica. Como a vida, que às vezes simplesmente leva sem direção.

Quem permanece no chão vê que agora ela voa, e fica cada vez menor no horizonte. Um coração apertado aguarda ansioso pelo retorno, esperando sinceramente um dia poder voar junto a ela.

O segredo não está em voar. Está em voar juntos.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Sobre o amor

É estranho querermos pensar em "encontrar um grande amor". Primeiro, porque parece que somente temos um grande amor em nossas vidas. Um desejo um tanto exclusivista para um mundo em que nos vemos envolvidos por tantos seres diferentes e especiais...

Nem estamos defendendo a poligamia. Aliás, quem leu assim, cometeu o segundo erro: "amor" não é exclusivamente conjugal. Por vezes, acontece de encontrarmos na pessoa que escolhemos para conviver com exclusividade aquela que nos auxilia em nossas grande realizações pessoais, alguém amoroso e companheiro, que nos completa em nossos sonhos, por vezes até oriundos da infância. Mas, convenhamos, o amor é muito maior que isso.

Nem é preciso dizer que o amor é muito mais amplo que o relacionamento sexual de dois seres. Importante, belo, quase sagrado. Mas para que assim seja, ele depende do amor - não o traduz, como normalmente se interpreta em nossos tempos de paixões e sensualidade. Nem tampouco é a paixão dos primeiros segundos, que traduz muita vez a mera atração física, necessitada de depuração no tempo.

Mas este foi só o primeiro argumento. O segundo, é de que talvez sejamos muito pequenos para querer definir este que, imaginamos, seja o mais belo dos sentimentos. Lembrando do que nossas referências nos dizem, e do pouco que conseguimos compreender, entendemos que o amor se manifesta quando nos vemos em direção ao outro ser. Vemos que nos momentos em que doamos algo de nós, com sincero desejo de auxiliar, invade-nos um sentimento que talvez seja algo próximo do amor... Sentimos a alegria que talvez traduza-o quando nos preocupamos sinceramente com o outro, sem segundas intenções. Vemos homens, que eram verdadeira tradução do amor, que superaram desentendimentos e aflições, seres que compreendem e perdoam; respeitam e apóiam; seguem lado a lado, sem se amarrar. São tantas características, que traduzem o bom e o belo, e que resumimos nesta singela palavra. Somos incapazes de compreende-lo totalmente, porque ainda resumimos nossa compreensão dessas virtudes a aspectos meramente estéticos ou perecíveis. Mas nestas singelas passagens, é como se um pequeno foco de luz brilhasse em meio à enorme escuridão, fazendo nossos olhos brilharem e nosso coração bater tranquilo.

Mas o terceiro e definitivo argumento é que um grande amor não está lá fora. Ele não se acha nas ruas, nos bares, nas esquinas, nas casas religiosas. Ele está dentro de nós. Ele brota da transformação pela qual passamos, sem perceber... Quando abandonamos nosso pequenos e fechados mundinhos, pensando um tanto menos em nós mesmos. Vendo a beleza da mundo que nos envolve, sentindo o ar que nos invade o pulmão, sorrindo com o sorriso alheio, e enxugando lágrimas que escorrem... Renunciando a algo que gostamos muito, em nome de um outro algo ou alguém... São tantos momentos em que percebemos que algo diferente vibra dentro de nós. E depois da tormenta da transformação, estamos renovados, repletos e felizes... E amamos... Apenas um pouco talvez, mas já o suficiente para nos vermos diferentes do que éramos. Mas repletos, mais cheios de si.

Portanto, que todo aquele de nós que procuramos um amor, que olhemos para dentro, para olhar para fora. Que sejamos menos críticos, menos apegados a nossos vícios e vontades. Que sintamo-nos novos, em nós mesmos.

Talvez isso seja o amor. Alguns chamam de Deus. Tudo bem, são sinônimos.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Links quebrados...

A eventuais leitores: os links de contos anteriores estão todos quebrados. Culpa do meu provedor... Aos poucos vamos recuperando os textos e postando diretamente, ok?

Visita

Olá, amigo. Que bem que você veio! Por favor, fique à vontade. Sente, relaxe, precisamos mesmo conversar. Faz muito tempo que você não vem aqui, e já estava com saudade.
Sei que você não veio mais por seus motivos. Entendo, é a falta de tempo, uma vida agitada, bem o sei! Quantos compromissos assumidos, não é verdade? Não sei se você precisava de todos esses, convenhamos. Podia ter evitado aquele passeio a mais, o hotel tão caro, um jantar naquele restaurante, convenhamos! Claro, você vai dizer que trabalha tanto, e merece ter alguns confortos. Sinceramente? Já não sei o que vem antes. São tantos “confortos” que precisam de tanto “trabalho”, ou será que tanto “trabalho” pede tanto “conforto”? Está bem, não precisa responder.
Mas eu andei reparando no seu descanso. Você tem ficado um bom tempo de mente agitada e corpo parado, não é? Sim, imagino que seja seu direito descansar, principalmente depois de tantas ocupações e preocupações – e, precisamos reconhecer, muito mais dessas do que daquelas, não é? De que adiantaram aquelas noites sem sono pensando em um negócio que não se concretizou? E as tantas brigas com os colegas da empresa, em nome de um controle que ninguém via? Será que valeu a pena tanto autoritarismo, para evitar que um colega que foi embora para o exterior tomasse seu lugar? OK, não vamos conversar sobre isso agora.
Falemos sobre aquele descanso. Sim, eu sei que você merecia. Mas, você tem mesmo descansado no fim de semana? Porque eu olho para você no Domingo à noite, quando você já ficou dois dias inteiros fazendo tudo o que você acha necessário para viver bem. E lá está você reclamando... O tempo é curto, e não dá pra descansar desse jeito. Sente aquele cansaço no corpo, mas isso é porque você não fez nada... Sabe, não somos samambaias, logo, não fomos feitos pra ficar parados. Fazem uns dois meses que você jurou a si mesmo que ia começar a correr todo dia de manhã, e até agora... Tirando duas ou três caminhadas... Não quer falar sobre isso também? Está certo...
Podíamos então falar sobre sua esposa. Sim, aquela "chata". Que não é chata coisa nenhuma, está apenas se preocupando com você. O que você queria, que a sua casa virasse uma enorme bagunça? Experimente olhar para o seu quarto nos – raros – dias em que você chega mais cedo, e veja o efeito de sua passagem por lá. Desastroso. Quase caótico. OK, talvez ela esteja exagerando na academia. Mas, olha, no lugar dela, acho que você faria o mesmo. Não creio que seja fácil ficar casado com as paredes de uma casa enorme e vazia. Sim, eu sei que é preciso sustentar fartos luxos com suor de um trabalho incansável. Mas aqui voltamos àquela pergunta que você não quer responder...
Veja, procure ver sua família! Eles não estão lá apenas para servi-lo, eles o amam! Talvez seja hora de valorizar mais tudo de bom e belo que você tem tão próximo de si. Quantos podem falar, orgulhosos, que tem pessoas tão dedicadas e amorosas ao seu lado? São raros os que chegam em casa e podem dizer que encontram um ambiente de paz, sem brigas... Apesar de sua falta de colaboração, já que você tem feito tão pouco por seu filho, mesmo com as tantas dificuldades que ele experimenta no colégio.
Se vou criticar também suas idas ao clube? Bem, acho que você poderia, sim, repensar. Ao invés de ficar horas no bar, gastando seu tempo discutindo a vida dos outros e bebendo incansavelmente, poderia ir até a quadra, correr um pouco, fazer um exercício qualquer... Seu médico já lhe avisou que o coração não é mais o mesmo, e que ele não suportará tamanha pressão, se você não cuidar melhor dele. E além disso, tem tanta coisa boa pra se fazer aí fora. São seus amigos? Estranhos amigos que te incentivam a ferir as pessoas, apresentando companhias de gosto duvidoso. Que te levam a ambientes deprimentes – e não sou eu que estou dizendo isso, é você mesmo! E, principalmente, que te abandonaram quando você mais precisaria deles. Talvez eles tenham feito isso porque aquele mal da garganta, segundo seu médico, é conseqüência dos anos de fumo inveterado, que vocês alimentam juntos. E, sabe como é, ver você naquele estado talvez não fizesse bem a eles. Vai que eles se convencessem que era hora de parar... Então, eles preferiram mesmo te abandonar.
Agora, imagine se você tivesse seguido só um pouquinho seu irmão. Desde já, vamos abandonar aquela conversa de que seu pai gostava mais dele, e lhe deu mais oportunidade. Você sabe que seu pai deu mais a ele porque ele sempre correspondeu, enquanto você achava seu pai um chato, que não sabia como enriquecer e ser feliz. O fato é que seu irmão está muito feliz. Principalmente depois que começou a usar o tempo dele em favor das outras pessoas. Nós sabemos que você se ralhou de inveja quanto viu aquele pessoal da favela vindo agradecer-lhe. Ele ajudou muito àquelas pessoas, ensinou aos menores as bases do violão, levou cestas básicas enquanto eles precisavam, conversou com eles. Você sempre preferiu dizer que isso é hora coisa do governo, da polícia, de qualquer outro... E você não ia perder seu Domingo com isso, não é? Mas aí voltamos àquele assunto que voce não quer conversar. Mas, olha, seu irmão parece muito bem...
Enfim, é claro que eu acho que você deveria repensar em todas essas coisas. Afinal, você conhece as regras do jogo: tudo o que fazemos volta pra nós. Não, isso não é catecismo barato, nem conversa de moralista. É a realidade, meu caro, e você sabe disso. Quem te socorreu na hora do aperto? O seu médico, único amigo que você manteve durante todos esses anos, e sua família, ou aqueles que se aproximaram depois que você foi promovido? E como você tem lidado com cada um deles? Está aí a prova... Acho que você deveria repensar, e tentar enxergar também o amanhã, e não apenas o hoje, antes de decidir. Eu sei que do outro lado pode parecer mais gostoso, mas tudo isso passa. Como um raio.
O que? Eu só o critico? Não posso fazer nada, essa é a minha função – reconhecer o que você fez de bom, e despertá-lo para o resto. Afinal, sou sua consciência.
Você vai embora? Tudo bem. Volte quando quiser. Saiba que eu continuo vigiando, e quando você decidir voltar, estarei pronta para dar-lhe mais dicas. Quero apenas relembrar-lhe que eu só quero te ver feliz. Sei que incomodo, mas que posso fazer?Então está bem. Boa sorte lá. Volte depois, e me conte como foi. Aliás, nem precisa contar. Eu estou vendo...

Ano Novo, Casa Velha...

É difícil recomeçar um diálogo depois de algum tempo em que ficamos sem nos falar. É como uma porta deixada aberta, por onde espera-se que alguém entre. E esse alguém nunca vem, nunca manda notícias... Nem liga no celular para dizer porque está atrasado, ou a que horas chega. Primeiro vem o medo de que ele nunca venha; depois bate uma certa raiva (como é que ele não me fala nada??). Tentamos ligar no telefone, ele não atende. E então deixamos pra lá. "Se ele quiser, que me procure".

Até que ele aparece. Não espera encontrar ninguém aguardando por ele. Apenas está lá, de pé, tentando encontrar um olhar. Mas e se ninguém olhar? Bem, o que importa? Pelo menos ele está lá, novamente.

Abri a janela virtual nessa manhã, e lá estava um alguém tão querido... Pintando o mundo, tanto quanto este escriba, com suas particulares tintas. E colocou um pincel novamente nesta mão, e pô-la (de acordo com o novo acordo ortográfico, tem acento??) a desenhar velhas paisagens não mais navegadas.

Há muitos contos para se contar. Há muitas portas por se abrir. Há muitas telas em branco a serem preenchidas em cores realistas ou surrealistas, leves ou carregadas, brandas ou pesadas, de alegre escárnio ou de refletido pensar. Quantos olhos varrerão estas linhas? Quantos procurarão encontrar em meio ás difusas luzes sentido algum nas imagens criadas? Que importa tudo isso?

Que venham os contos...

sábado, 29 de março de 2008

O importante é participar!

24/03/2008 16:58:03

CONCURSO CULTURAL

Inscrições para o concurso de microcontos já estão abertas

A Prefeitura de Jundiaí, por intermédio da Secretaria Municipal de Cultura e sob a coordenação da Comissão Municipal da Literatura, já iniciou o período de inscrições para o Concurso de Microcontos, que será encerrado no dia 30 de abril. Os participantes poderão escrever dois microcontos com até 25 linhas, assinado por pseudônimo.Segundo a secretária municipal de Cultura, Penha Maria Camunhas Martins, a idéia de realizar o concurso foi da comissão e que esta é uma maneira de fazer com que a comunidade tenha acesso às ações artísticas que acontecem na cidade.
“Tem gente que nunca escreveu e gostaria de participar do concurso. Esta é a hora então de colocar para fora seus sentimentos e quem sabe mostrar que tem talento para a literatura. É em concursos como este que podemos ter acesso à vivência de cada pessoa sobre diferentes leituras da realidade, da poesia, da vida e dos problemas cotidianos”, destacou Penha.
Os microcontos deverão ser datilografados ou digitados e o enredo, estilo e tema são livres. As obras apresentadas devem ser inéditas, ou seja, não terem sido apresentadas em outros concursos, nem conter plágios. Segundo Penha, os 50 textos selecionados serão publicados em um livro pela Prefeitura de Jundiaí, por meio da Secretaria Municipal de Cultura. A presidente da comissão, Júlia Fernandes Heimann, disse que as pessoas que sentem vontade de escrever devem se arriscar.

fonte: Letícia Giassetti, do site www.jundiai.sp.gov.br

Quem nunca escreveu e tem vontade, escreva! De minha parte, vou começar a dar uma selecionada nos futuros contos que aparecerão por aqui, por enquanto. Sabe como é, precisam ser inéditos...


domingo, 9 de março de 2008

Back in town

A todos os amigos, após um longo e tenebroso verão, estamos de volta. Agradeço a única mensagem recebida , e algumas perguntas da meia dúzia de parentes e amigos que ainda lêem a este escriba.

Como o mundo gira e a roda roda, continuemos com esta série de 25 contos. A seguir, uma das estórias que reputo como "estranhas". Eternizar...

Obs.: O link que estava quebrado foi consertado.

sábado, 12 de janeiro de 2008

Uma pergunta...

Tem alguém passando por aqui? Interessados em novos textos, favor informar pelo link "comentar" abaixo...

grato,

atc.

o autor

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Um convite (ou dois?)

Caríssimos, estamos de volta. Seguindo as tradições, um feliz ano novo a todos...

Curiosas as mensagens de ano novo normalmente. Desejam "felicidade", "paz", "sucesso", "prosperidade" etc. Começo a pensar no sentido disso tudo. É claro que é lícito, justo e necessário que desejemos isso uns aos outros. Quem não quer o melhor para o outro?

Pois é nesse ponto que surge a questão. Desejamos com os lábios muitas vezes, cumprindo um ritual social e, pouco tempo depois, esquecemo-nos das promessas e dos desejos, e continuamos agindo como sempre. O mundo só não é um lugar melhor para se viver por um único motivo: quem o habita, por suas próprias ações, torna tudo mais difícil e pesado. Desejamos felicidade, mas não hesitamos em explodir em amargor com o outro. Esperamos paz, e não perdemos uma oportunidade de um conflito, por mais simples que seja, no mercado, na rua, em casa, no trabalho etc. Proferimos palavras que auguram sucesso e prosperidade, quando esses acontecimentos dependem de progresso, e progresso depende de mudança ou aprimoramento. E não nos mudamos, nem tampouco nos aprimoramos, nem tampouco promovemos espaço para que os outros o façam.

Não confundam os amigos essa análise com amargor. É apenas uma reflexão, para que os desejos tornem-se ação, contínua e frequente. Enfim, mais do que desejos, compartilho com os amigos um convite, para que aproveitemos as datas festivas para construir em nós mesmos, e nos outros, por consequencia, os bons sentimentos e momentos que, até hoje, não tem sido mais do que meras palavras.

E falando em convite, publicamos hoje O Convite ao Bailado (clique aqui). Não é um dos preferidos do autor, mas não deixa de revelar um momento poético de encantamento juvenil, prévia dos sentimentos maduros do amanhã. Boa leitura, e boas conquistas a todos em 2.008!

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Tragédia

Bem, a despeito dos compromissos, cá estamos, postando um novo texto.

Dizem os grandes o quão difícil é escrever uma tragédia, nos moldes do teatro grego de outrora. Não deveria ser assim, nos nossos dias, em que vemos muito mais pessimismo em nosso entorno.

Por isso, uma tragédia um tanto diferente nessa semana antes do Natal. Que ela possa nos fazer pensar um pouco sobre certas tragédias que vemos ocorrer em nossa volta.

Com vocês, a Tragédia da Vida Pública.


terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Vidas que Vão

Caros blogueiros,

Infelizmente, o fim de ano é muito corrido para nós todos que temos nossas atividades profissionais. Por isso, como a literatura não é profissão, mas diversão, para este autor, somos obrigados a tornar intermitentes as postagens.

Em todo caso, dá tempo de enviar um conto nessa semana - Vidas que Vão.

Continuem mandando, ainda que via email, seus comentários. Saibam que recebo todos, e fico muito contente com a aceitação que esses filhos recebem. Não posso evitar o prazer de pai coruja, de ver os rebentos crescendo e ganhando aprovação dos demais...

Para ler o conto, é só clicar aqui.


Obs.: O link, que estava quebrado, já está OK.


quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

25 Contos de Réis

Alguns podem se perguntar como surgiu o título desse blog - que sucedeu à idéia original, do livro com o mesmo título. Por um lado, é um óbvio trocadilho com os diversos sentidos da palavra "conto", como mostra a explicação no cabeçalho da página.

Mas é também o título de um conto. Na verdade, "25 Contos de Réis", o conto, nasceu de propósito. Sou apaixonado por música, e reparei que em quase todos os CD's que comprava (na época não tinha MP3), havia uma "faixa título" - ou seja, uma música com o mesmo nome do "disco". Porque não fazer o mesmo com o livro? Daí nasceu esse conto, que fechava o livro originalmente idealizado, e que, consequentemente, eu só pretendia postar no final, quando todos os outros vinte e quatro contos já estivessem aqui.

Mas, o que posso fazer? Resolvi relê-lo nessa noite. E um arrepio me invadiu a alma quando revi a estória de Seu Alfosinho (como ele preferia ser chamado), e seu neto, Rodrigo Borba Tavares. Um conto que me inspirou pensamentos doces, de esperança na vida. Logo, esse feliz apressado vem ao mundo, para apreciação dos amigos. Espero que ele gere nos corações tanta ternura quanto despertou no meu...

Para conhecer, aqui estão os Vinte Cinco Contos de Réis.

domingo, 2 de dezembro de 2007

De Volta Pra Casa

Hoje eu vou pra minha pátria.
Estava distante do meu lugar. Não pude evitar, na verdade. O destino me levou para longe e não posso de certo dizer que foi um exilo frio. Conheci lugares fantásticos. Vi animais e plantas, rios e mares, coisas, pessoas e paragens. Quanta beleza! Aproveitei tanto quanto meus olhos e meu coração me permitiram.
Agora, ele bate acelerado, minhas malas estão prontas. É hora do retorno. A grande Ilha está ficando para trás. Aceno-lhe um adeus, sabendo que a volta é inadiável, e a saudade o preço a se pagar... Mas não me convém pensar em tais coisas, ao menos por agora.
Meus olhos neste momento se voltam para o infinito, o grande rio que se estende à minha frente. Deixo-me levar, tragado pela força que me carrega sem resistência.
O mar agora é calmo. Meu coração bate um tanto inquieto, mas logo encontrará tranqüilidade. Adeus. Estou voltando para casa.


(Obs.: Esse é um "quase-haicai", quando se pensa em contos. Apesar disso, é um dos meus preferidos. Estranhamente, ou não, só entendi totalmente seu significado há poucos meses atrás.)

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Classificados

Alguém aqui trabalha em jornal?

Contatos com o autor.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Love Story

Alguns desses textos que temos revisto trazem saudáveis surpresas. Lembrava-me de "Love Story" como uma estória meio tola de amor entre dois adolescentes que iniciavam sua vida. Uma estória que simplesmente acabava de uma forma, digamos, inusitada. E nada de mais.

Mas, relendo-a agora, descobri nela um algo especial, que não sei bem definir o que é. Um sentimento sincero, talvez, dos tempos em que foi escrita, um misto de despertar para a vida e otimismo... Enfim, fica ao julgamento dos amigos!

Com vocês, Love Story.

domingo, 25 de novembro de 2007

Entendimento

Tenho recebido alguns comentários sobre os textos, especialmente sobre a compreensão dos mesmos. Os mais interessantes são aqueles que dizem não ter entendido um trecho ou outro, ou um texto inteiro...

Bem, eu poderia de minha parte dar uma interpretação ou outra aos temas escritos. Mas, sinceramente, tenho para mim que isso seria desvirtuar o objetivo do próprio texto. Quando o autor conta a alguém o que estava pensando no momento em que escreveu tal ou qual trecho, acaba por assassinar todo o exercício criativo que enriquece sua obra.

Portanto, tudo que posso dizer aos amigos que talvez não tenham compreendido um trecho ou outro, é... tentem novamente! As letras por vezes parecem ficar mesmo confusas, como crianças mal-educadas que fogem ao comando de seus pais. Nesse momento, é preciso manter a calma, e buscar o controle sem violência. Vejo pais que ameaçam demais seus filhos, perdem o controle, e não obtêm resultado nenhum - afinal, a tudo se acostuma na vida, até à violência. Tenho noção que isso representa por vezes um desequilíbrio de quem grita, mas, não torna a primeira proposição menos válida.

Por outro lado, também é preciso colocar as coisas nos eixos, e impedir que os pequenos pulem de rédeas soltas pelo mundo, fazendo o que querem. Um tanto de disciplina nunca fez mal a ninguém. Mas há formas e formas de se disciplinar algo ou alguém. E talvez o amor seja a melhor já descoberta até hoje...

Aproveito o ensejo para avisar aos colegas que as postagens podem se tornar intermitentes nos próximos dias, em virtude de uma série de compromissos profissionais. Nada que não acabe, como tudo na vida.

Continuo aguardando os comentários dos colegas.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

O Sonho

Leia o texto aqui.

Diálogo

Diz-se que numa vida cabem muitos fatos. Olhando a mesma frase sob outro prisma, mantém-se integral sua validade. Um mesmo fato tem múltiplas interpretações e sentidos, dependendo do olhar do observador. O que para alguns é belo e estimulante, para outros entristece e acabrunha. Tudo ganha relatividade quando visto sob os olhos dos agentes, cada qual com sua própria interpretação da vida e seus acontecimentos, resultado direto dos pré-conceitos trazidos das experiências pretéritas.

Não queremos defender uma relatividade de determinadas crenças ou valores indistintamente admitidos - uma interpretação possível do texto acima, porém em desacordo com a pretendida. Determinados padrões não se sujeitam às vontades individuais, sob pena de perdimento de premissas intrínsecas da vida, inalienáveis à própria convivência.

Em todo caso, o fato retratado anteriormente justifica o desejo sincero de que cada um leia com seus olhos, e traduza de acordo com suas crenças, os textos publicados. Eles foram feitos por um agente, com uma intenção - não necessariamente a melhor ou mais verdadeira de todas. Ademais, não faria sentido publicar os textos num espaço como esse, se não fosse para permitir a troca saudável de impressões sobre as idéias neles retratadas.

Aguardando a compreensão desse fato, apresento-lhes acima um de meus mais diletos filhos.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Onde o Céu É Azul

Veja o texto aqui.


Aviso

O primeiro propósito deste post é agradecer aos amigos que já se dispuseram a ler a única estória postada até agora. Espero continuar contando com a companhia de vocês! E, pelos comentários até agora, alguns esclarecimentos:

1) Como dito abaixo, os contos foram escritos entre 1998 e, aproximadamente, 2.002. Fica às vezes difícil localizar o momento exato em que foram escritos, mas, quando possível, informarei (obrigado, Dani!)

2) A produção de novas estórias continua e, quando achar que alguma delas está boa o suficiente, colocarei aqui. Mas a experiência mostra que algum tempo de gaveta sempre faz bem a esses indisciplinados que vêm ao mundo com uma certa urgência...

3) Os posts dos textos serão semanais, ou, se em algum momento der na telha, com menor periodicidade.

4) As opiniões dos personagens não necessariamente refletem a do autor dos textos. Aliás, eles costumam ser um tanto teimosos e arredios a alterações, que posso fazer?...

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Hiato

Veja o texto aqui.


Nascimento

Em 2.002, conclui-se uma coletânea de contos sob o título "25 Contos de Réis". À época, foram colacionados, como o título sugere, vinte e cinco contos escritos no período de 1.998 a 2.002, sobre temas do dia a dia de um jovem passando pelo processo de crescimento, com seus conflitos, dúvidas, alegrias e reflexões.

Essa obra acabou nunca vindo à tona, em parte pelos conhecidos custos do mercado editorial, e pela falta de expectativa em torno dos mesmos. Agora, em 2.007, com o suporte da internet, este livro se tornará público.

Será uma estória por semana, até que se completem os 25 contos originais que deveriam compor a obra a ser lançada em 2.002. Depois desses, só o tempo dirá.

Todos os inimagináveis leitores que até aqui chegarem pelas portas da internet estão livres para comentar, como quiserem, os textos, nos respectivos posts. Os textos também poderão ser livremente copiados e utilizados, respeitados os limites das licenças de direitos, que podem ser conhecidos clicando-se no link ao lado.

Sejam todos bens vindos, e que nossas almas se enriqueçam, por todos os meios possíveis, muito mais do que esses meros vinte e cinco contos de réis...